Emir do Qatar acusa Israel de recusar paz e impor o seu poder

Cairo, 15 de set 2025 (Lusa) — O emir do Qatar acusou hoje Israel de recusar fazer a paz com os vizinhos árabes e querer “impor o seu poder” sobre eles, após o ataque israelita à delegação negocial do grupo palestiniano Hamas em Doha.

“Se Israel tivesse aceite a Iniciativa de Paz Árabe, teria poupado a si próprio e à região inúmeros sofrimentos. No entanto, recusa-se a fazer a paz com aqueles que o rodeiam e, além disso, impõe-lhes o seu poder”, criticou Tamim bin Hamad al-Thani durante a abertura da cimeira de emergência de líderes árabes e Islâmicos na capital qatari.

A reunião, convocada pelo Qatar, pela Liga Árabe e pela Organização para a Cooperação Islâmica, reúne mais de 50 chefes de Estado e altos dirigentes, incluindo o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e o líder turco, Recep Tayyip Erdogan.

Al-Thani afirmou que Doha foi, na semana passada, “alvo de um ataque traiçoeiro contra as residências de famílias do Hamas e da sua delegação negocial”, classificando-o como um “ato terrorista cobarde” que matou cinco membros da delegação palestiniana e um polícia qatari, além de 18 feridos.

O Emir recordou que o Qatar é um dos países mediadores, juntamente com o Egito e os Estados Unidos, entre Israel e o Hamas para alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza e libertar os 48 reféns ainda em posse do grupo radical palestiniano, dos quais se estima que 20 ainda estejam vivos.

“Já se ouviu falar de um Estado que ataca os mediadores e os políticos com quem está a negociar?”, questionou al-Thani, que adicionou: “Porque é que está a negociar, então.

Segundo o líder do Qatar, com estas ações, o Governo israelita demonstra que “quer fazer com que as negociações falhem”, ao mesmo tempo que assinalou que “não é verdade que a sua prioridade seja libertar os seus reféns, mas tornar Gaza num lugar inabitável”.

Segundo al-Thani, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, “afirma com orgulho que transformou o Médio Oriente nos últimos anos”, no entanto, efetivamente, isto significa que intervém em qualquer lugar e quando quiser”, numa alusão aos ataques das forças de Telavive nos últimos dois anos nos territórios palestinianos ocupados, além do Líbano, Iémen, Qatar, Irão e Síria.

Neste sentido, afirmou que “Israel finge ser uma democracia cercada de inimigos”, mas na realidade é “um sistema de ‘apartheid’ e de ocupação contra todos os que o rodeiam, e está a travar uma guerra de genocídio em que cometeu crimes que ultrapassam todos os limites”.

O emir do Qatar lamentou ainda que o Governo dos “colonos extremistas” pretenda que os ataques aéreos israelitas contra os países da região sejam algo a que “tenham de se habituar” e pediu “medidas tangíveis” nesta cimeira “para enfrentar este estado de loucura, força, arrogância e sede de sangue”.

No domingo, o primeiro-ministro e chefe da diplomacia de Doha, Mohammed bin Abdulrahman, indicou que o seu país não cessará os seus esforços de mediação junto do Egito e dos Estados Unidos para suspender a guerra na Faixa de Gaza, apesar do bombardeamento na passada semana na capital do Qatar.

“O vandalismo e a brutalidade israelitas nunca nos desencorajarão de continuar os nossos esforços fiéis ao lado do Egito e dos Estados Unidos para travar esta guerra injusta”, declarou.

O ataque teve como alvo os principais negociadores do Hamas em Doha, quando discutiam a mais recente proposta de Washington para alcançar uma trégua na Faixa de Gaza, já aceite por Israel.

“Em vez de expressar o seu apreço pelos esforços do Qatar e de preservar o progresso nas negociações, Israel realizou o bombardeamento contra um complexo residencial onde se encontravam membros do Hamas”, acusou Mohammed bin Abdulrahman.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque liderado pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva em grande escala no enclave palestiniano, que provocou acima de 64 mil mortos, na maioria mulheres e crianças, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo islamita, destruiu a quase totalidade das infraestruturas do território e provocou um desastre humanitário sem precedentes na região.

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