
Lisboa, 14 set 2025 (Lusa) — O secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, admitiu hoje que foram criadas “falsas expectativas” de mudanças na Igreja Católica, considerando que qualquer alteração deve respeitar a dimensão sacramental e hierárquica da organização.
Em entrevista à agência Lusa, o chefe da diplomacia vaticana admitiu que o caminho sinodal, um processo iniciado pelo Papa Francisco para discutir as mudanças dentro da Igreja e na relação com os leigos, criou “falsas expectativas” de muitos setores, que reclamam uma estrutura mais mundana.
“Na minha opinião, as mudanças devem estar sempre, digamos, de acordo com a tradição da Igreja”, pelo que “talvez também tenham sido criadas falsas expectativas que devem ser, por assim dizer, dimensionadas”, explicou o “número dois” do Papa Francisco, que continua no cargo com Leão XIV.
“É verdade que também existem mudanças estruturais que podem ser [feitas], mas não se pode mudar a natureza da Igreja”, nomeadamente a sua “dimensão sacramental” e “hierárquica”, de unidade pastoral com o Papa, disse Parolin.
Isso “pode agradar ou não agradar, mas esta é a Igreja que Jesus Cristo instituiu e que nos foi transmitida ao longo dos séculos através da tradição viva”, disse, admitindo que seja “necessário um esclarecimento para que não haja falsas expectativas” de muitos fiéis.
Hoje, a “Igreja é muito mais diversificada do que no passado”, para o qual contribuem as distâncias, as culturas ou uso das línguas nacionais.
Por isso, “anunciar a unidade [da Igreja] torna-a mais complexa, se não mais difícil”, salientou o cardeal italiano, que chegou a liderar as bolsas de apostas para suceder a Francisco.
“Na Igreja devemos estar unidos nas coisas fundamentais” e “sobre isso não há discussão”, no que respeita às “verdades da fé”, pelo que essa “é também a tarefa do Papa: confirmar os irmãos na fé”.
“Depois, há muitos domínios em que também podemos ser livres e onde cada um pode fazer as suas escolhas”, acrescentou o cardeal, sem especificar.
Sobre o processo sinodal iniciado pelo Papa Francisco, Parolin confia que Leão XIV vai continuar naquilo que eram os objetivos, a “participação de todos os batizados na missão da Igreja na evangelização”.
Isso “significa também uma maior participação [dos leigos] nos organismos internos da Igreja”, e “tem repercussões a nível intra-eclesial”, acrescentou o secretário de Estado, mostrando-se confiante: “A linha de fundo do Sínodo certamente continuará”.
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