Nova Iorque, Estados Unidos, set 2025 (Lusa) – A estratégia política do governador da Califórnia de imitar Donald Trump para atacar o Presidente norte-americano, fez Gavin Newsom crescer em popularidade, surgindo numa nova sondagem como principal candidato à indicação presidencial democrata em 2028.
Imitar a retórica e a ‘persona’ de Donald Trump nas redes sociais num tom sarcástico e combativo, adotar um postura agressiva com opositores, lançar um loja de produtos satíricos chamada ‘The Patriot Shop’ [a loja do patriota, numa tradução livre] – com bíblias e bonés ao estilo republicano -, tudo faz parte da estratégia de Newsom para atacar o Presidente.
“Estou apenas a seguir o exemplo do Presidente [Trump]”, disse Newsom a jornalistas.
“Se têm problemas com o que eu estou a publicar, com certeza deviam preocupar-se com o que Trump publica enquanto Presidente. A questão mais profunda é como permitimos que a normalização das suas publicações nas redes sociais ao longo dos últimos anos passasse sem escrutínio e atenção semelhantes”, acrescentou.
Toda esta proposta levou plataformas e meios de comunicação alinhados com a direita, como a rede FOX News, a atacarem Newsom, que acusaram de hipocrisia, enquanto democratas apressaram-se a partilhar esse conteúdo ‘online’, impulsionando ainda mais a mensagem.
O mais recente capítulo dessa saga satírica contra Trump é o lançamento de uma criptomoeda, à semelhança do que fez o chefe de Estado pouco antes de assumir o cargo.
Denominada ‘Trump Corruption Coin’ [moeda de corrupção de Trump], a criptomoeda de Newsom visa enfrentar diretamente a ‘$TRUMP’, a moeda do Presidente, a quem o governador da Califórnia e outros democratas acusam de corrupção e de procurar enriquecer enquanto tenta “vender influência” presidencial.
Em causa estão “moedas meme”, criptomoedas tipicamente baseadas em tendências da internet, o que as torna muitas vezes em ativos altamente voláteis, elevando consequentemente o risco para quem nelas investe.
Neste caso, os democratas temem que a ‘$TRUMP’ esteja a usada por investidores para comprar influência junto de Trump.
Já Newsom indicou que todo o valor gerado pela ‘Trump Corruption Coin’ será destinada à “campanha pela Democracia”, frisando que o lançamento tem apenas o objetivo zombar do envolvimento do Presidente com o mercado das criptomoedas.
Mas antes de tudo isto, Newsom já estava imerso num processo interno de reinvenção, tendo lançado um ‘podcast’ próprio – “This is Gavin Newsom” – e convidado uma série de personalidades conservadoras para conversar, o que gerou alguma contestação junto da esquerda.
No entanto, foi a resposta musculada de Newsom às ações de Trump em Los Angeles — para onde o Presidente mobilizou 4.000 membros da Guarda Nacional norte-americana e 700 fuzileiros — que reposicionaram o democrata.
No geral, os democratas, saídos de uma derrota nas últimas eleições e ansiosos por uma nova liderança, têm apreciado a estratégia de Newsom, com vários estrategas a elogiarem os esforços do político da Califórnia, alegando que já era hora de alguém enfrentar Trump de forma significativa.
Já essa tática não caiu bem entre republicanos, que consideram o democrata artificial ou exagerado.
Independentemente da avaliação feita por políticos, a Califórnia está agora no centro do universo político do país e as sondagens mostram que a popularidade de Newsom aumentou em plena rivalidade com Trump, com o eleitorado democrata disposto a dar uma oportunidade a Newsom.
Uma sondagem Yahoo/YouGov, divulgada na semana passada, mostra que 21% dos eleitores democratas registados e eleitores com tendência democrata identificaram o líder da Califórnia como candidato preferido para as presidenciais de 2028.
A ex-vice-presidente Kamala Harris, que perdeu para Trump na eleição do ano passado, surgiu no estudo em segundo lugar (19%).
Outros democratas que completaram a lista de preferência dos eleitores são a congressista de Nova Iorque Alexandria Ocasio-Cortez (12%), o ex-secretário dos Transportes Pete Buttigieg (10%), o governador do Illinois, JB Pritzker (7%), o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro (4%), o governador de Minnesota, Tim Walz (4%), e a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer (2%).
O crescimento da popularidade de Newsom fica em especial evidência se comparada com uma sondagem datada de abril, feita pela Economist/YouGov, que apontou Kamala Harris como a principal escolha democrata, com 29%, enquanto cerca de 8% dos entrevistados preferiram Newsom — quase empatado com Buttigieg (9%) e Ocasio-Cortez (7%).
Apesar de não ter anunciado formalmente planos de concorrer, Newsom tem-se comportado como um candidato presidencial em formação, tendo criado comités de angariação de fundos, visitado Estados-chave em disputa e recebido figuras políticas norte-americanas no ‘podcast’, além de ser a figura democrata que mais se tem destacado em confrontos com Trump.
Contudo, uma outra sondagem Yahoo/YouGov mostra que Gavin Newsom não está apenas a eclipsar democratas, tendo superado também Donald Trump, assim como o vice-Presidente, JD Vance, num levantamento sobre uma hipotética corrida presidencial de 2028.
Trump não é elegível para concorrer às próximas presidenciais, já que a Constituição norte-americana proíbe mais de dois mandatos pela mesma pessoa. Ainda assim, alguns republicanos têm defendido a ideia de que Trump podia concorrer novamente.
MYMM (ARYG) // EJ
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