Governo de Cabo Delgado tenta travar ação terrorista nas estradas moçambicanas

Pemba, Moçambique, 18 jul 2025 (Lusa) — O governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, afirmou hoje que as autoridades moçambicanas estão a tentar travar a ação dos terroristas que atuam ao longo das estradas, saqueando bens e sequestrando pessoas para posterior pedido de resgate.

“Os terroristas têm desviado para as matas as viaturas que circulam no troço, saqueando bens dos passageiros e sequestrando empresários com o intuito de exigir valores para o resgate”, queixou-se o governador de Cabo Delgado.

De acordo com Valige, os terroristas atuam entre os distritos de Macomia e Auasse, na estrada N380, situação que “preocupa” o governo local.

“Esta situação preocupa-nos a todos, pois compromete a livre circulação de pessoas e bens no referido troço, além dos sequestros e perdas de vidas humanas”, referiu o governador, embora sem prestar mais detalhes.

O presidente do conselho empresarial de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, pediu esta quarta-feira a retoma de escoltas militares em alguns troços face a cobranças ilícitas feitas por supostos terroristas para circulação naquela província.

“Até neste momento estamos a contabilizar 104 viaturas [interpeladas], até no sábado, é um número maior, aterroriza, porque o resgate é maior, os valores ali variam de 200 a 350 mil meticais [2.691 a 4.710 euros], imagina se você não tem, a viatura vai em cinza”, disse, em declarações à comunicação social, Mamudo Irache, da Confederação das Associações Económicas — CTA, maior representante do setor privado moçambicano.

Segundo o representante provincial, a alegada cobrança de valores por supostos grupos insurgentes como condição para circular ocorre desde janeiro, no troço entre a localidade de Awasse, no distrito de Mocímboa da Praia, e no distrito de Macomia, antes palcos de sucessivos ataques de grupos terroristas.

Além da cobrança de dinheiro, Mamudo Irache alertou também para o aumento de raptos em vias que ligam os distritos mais à norte de Cabo Delgado, face à retirada de escoltas militares, uma medida que, até há pouco tempo, funcionava principalmente no trajeto entre Macomia e Awasse.

“Nesta primeira fase que as incertezas acontecem pedíamos a retoma de escolta, este é o primeiro ponto. Retomando a escolta, obviamente, os empresários se sentiriam seguros”, disse o responsável, pedindo também que sejam colocadas posições militares em zonas consideradas perigosas.

“Como são as áreas identificadas [onde] sempre têm acontecido os atos de raptos, colocarmos uma posição permanente nesta via se calhar isso poderia ajudar a nós, como empresários, e poderia ajudar a região”, referiu o presidente do conselho empresarial de Cabo Delgado.

Numa menção a um encontro com o governo provincial, ocorrido na terça-feira, o Presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários de Cabo Delgado, Cassimo Ibraimo, referiu ter apresentando o mesmo problema, reiterando que a “situação é preocupante” em Cabo Delgado.

“Tivemos um encontro ontem sobre isto e colocamos como um desafio e pedimos que o governo nos ajude neste contexto. Você quer viajar, [mas] sem dinheiro já não passa, então já colocamos esse assunto ao governador da província”, disse aos jornalistas Cassimo Ibraimo.

A estrada entre Macomia e Awasse é uma das poucas vias asfaltadas que liga os distritos mais a norte da província, entre os quais está Muidumbe, Mocímboa da Praia, Mueda, Nangade e Palma.

A província de Cabo Delgado, situada no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.

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