Maputo, 24 mar 2020 (Lusa) – A vila de Mocímboa da Praia acordou hoje mais calma, mas com marcas das confrontações entre as forças governamentais e um grupo armado que na segunda-feira invadiu a vila, disseram hoje à Lusa fontes locais.
A vila fica a 90 quilómetros dos megaprojetos de gás natural em construção no país e que representam alguns dos mais importantes investimentos privados em curso em África.
Um residente ouvido hoje pela Lusa descreve que as pessoas voltaram a circular nalgumas zonas, mas há corpos nas ruas e marcas das confrontações entre as forças de defesa e segurança e o grupo que atacou a vila, ao cabo de dois anos de violência armada na província de Cabo Delgado.
“Estamos a encontrar pessoas mortas, entre militares e civis. Alguns perderam a vida algemados”, afirmou, por telefone, um residente.
Ainda não é claro quem controla a vila, descrevem, sendo que uma das pessoas refere que o grupo armado controla o porto de Mocímboa.
Uma fonte disse que o ataque ocorreu duas semanas após o desaparecimento de um grupo de 43 habitantes que supostamente integram o movimento autor do ataque.
Um grupo armado invadiu a vila na madrugada de segunda-feira e esteve em confronto, com disparos de várias armas, durante o resto do dia, com as forças de defesa e segurança moçambicanas.
A polícia referiu que o grupo ocupou o quartel da vila, onde içou a sua bandeira, destruiu casas, vandalizou espaço públicos e criou barricadas nas principais entradas de Mocímboa da Praia.
A população esteve fechada dentro de casa, sem circular, disseram residentes à Lusa.
O comando-geral da polícia moçambicana fez na segunda-feira um apelo à calma e disse estar a combater os agressores.
Imagens captadas pela população e que a Lusa teve acesso mostram bancos, carros e residências vandalizadas.
A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados, que organizações internacionais classificaram como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio já fez, pelo menos, 350 mortos, além de 156.400 afetados, devido à perda de bens ou obrigados a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.
Estes ataques têm acontecido sobretudo no meio rural, mas Mocímboa da Praia é um dos principais centros urbanos da região, sede de distrito, servido pela única estrada asfaltada que cruza a província e com um aeródromo apto a receber voos internacionais.
Trata-se da vila onde em outubro de 2017 começou a ameaça armada numa mesquita que, como outras de Cabo Delgado, era apontada na época como tendo sido alvo de radicalização, atormentando Cabo Delgado.
Mocímboa da Praia fica a 90 quilómetros a sul de Palma, distrito onde estão a ser construídos megaprojetos internacionais de exploração de gás natural.
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