
Paramaribo, Suriname, 02 dez 2025 (Lusa) – Os descendentes de escravos africanos e povos indígenas do Suriname aceitaram um pedido de desculpas, feito em 2023, pelo rei Willem-Alexander dos Países Baixos pela escravatura na antiga colónia neerlandesa.
“Aceitamos o pedido de desculpas e o pedido de perdão com a plena convicção de que o rei, de consciência tranquila, deseja cooperar na cura e na reconciliação”, disse, na segunda-feira, Wilgo Ommen, representante das comunidades indígenas.
Ommen falava durante uma cerimónia pública de reconciliação na capital Paramaribo, em que participou Willem-Alexander, segundo o serviço de comunicação do Governo do Suriname.
O rei sentou-se numa cadeira especial, de frente para um chefe tribal indígena e um chefe quilombola (descendentes de escravos), enquanto os líderes espirituais Winti realizavam rituais utilizando corda, tecido, erva e um ‘matta’ (pilão).
O pilão foi depois colocado num barco no rio para que o espírito da natureza pudesse continuar a curar as feridas do passado, explicou o mesmo serviço.
“Este é um momento para vir ouvir-vos, para ouvir o que ressoa dentro de vós, para aprender convosco como podemos continuar a construir um futuro juntos entre o Suriname e os Países Baixos”, disse o rei.
“Tenho plena consciência de que a dor do passado perdura por gerações e sinto-me responsável pelos meus antecessores”, acrescentou Willem-Alexander.
Também a Presidente do Suriname, Jennifer Geerlings-Simons, falou durante a cerimónia, para levantar o tópico das reparações devido à escravatura.
“As perdas sofridas são significativas. Não as discutiremos agora, mas a questão das reparações terá de ser abordada um dia”, sublinhou a chefe de Estado.
“Temos a oportunidade de dar um passo em direção à construção de um caminho comum. (…) Não é uma tarefa fácil, mas se trabalharmos juntos, como provaram os nossos antepassados, avançaremos através de trocas respeitosas”, acrescentou.
Logo a seguir, os membros da família real tiveram uma reunião à porta fechada com Geerlings-Simons, e com os líderes tradicionais.
Em nome do rei, o ministro dos Negócios Estrangeiros neerlandês, David van Weel, anunciou um fundo de 66 milhões de euros para projetos sociais que beneficiarão os descendentes de escravos e os povos indígenas.
O rei Willem-Alexander e a rainha Máxima chegaram a Paramaribo no domingo para uma visita de três dias ao Suriname, que celebrou o 50.º aniversário da independência a 25 de novembro. Esta é a primeira visita da família real neerlandesa em 47 anos.
Os Países Baixos emitiram um pedido formal de desculpas pela escravatura através do então primeiro-ministro Mark Rutte, em dezembro de 2022. Em 2023, o rei fez o mesmo.
O Suriname, um pequeno país do norte da América do Sul, assolado por rebeliões e golpes de Estado desde a independência, em 1975, possui importantes reservas de petróleo em alto mar, recentemente descobertas.
VQ // APL
Lusa/Fim
