UM NOVO CAPÍTULO PARA OS CONSERVADORES

Correio da Manhã Canadá

Quando Andrew Scheer se candidatou, em 2016, à corrida à liderança do Partido Conservador (PC), poucos acreditavam que poderia sair triunfante. Contra muitas expectativas, Scheer acabaria por derrotar o candidato favorito, Maxime Bernier, através de uma campanha pouco agressiva, mas que já deixava transparecer as visões conservadoras em relação a temas como o aborto ou o casamento homossexual.

Em 2019, o cenário inverteu-se. Face aos escândalos em torno de Trudeau, nomeadamente a polémica “brownface” ou o caso da SNC-Lavanin, os conservadores chegaram a acreditar numa vitória nas eleições federais, mas Andrew Scheer pareceu não estar à altura. Trudeau venceu, ainda que sem maioria, alimentando ódios no seio do Partido Conservador, face à crónica impopularidade de Scheer.

No período pós-eleitoral, sucederam-se as especulações em torno da demissão do político, consistentemente desmentidas pelo agora ex-líder do PC. Talvez por isso, o anúncio da passada quinta-feira tenha sido uma surpresa para muitos: num discurso emocional na Câmara dos Comuns, Andrew Scheer revelou estar de saída, alegando a vontade de pôr, agora, “a família em primeiro lugar”.

Pouco depois, “estoura” na imprensa canadiana mais uma polémica. Ao que avançou a Global News, Andrew Scheer usou fundos do partido para pagar o colégio privado dos filhos. A notícia não foi desmentida pelo PC, que alegou, pelo contrário, tratar-se de uma “prática comum” em Ottawa, afastando, ainda, possíveis relações com o afastamento de Scheer.

Agora, o PC inaugura um novo capítulo, numa atmosfera de incertezas face ao novo líder. Nomes como Rona Ambrose, Peter MacKay, Lisa Raitt, entre outros, começam a surgir, ainda que o partido avance com cautela, procurando perceber, antes de eleger um substituto, o que, verdadeiramente, levou à queda de Andrew Scheer.

Por ironia, o anúncio da demissão de Scheer coincidiu com uma esmagadora vitória dos conservadores do outro lado do Atlântico: também na quinta-feira, Boris Johnson venceu no Reino Unido com maioria absoluta, levando avante o seu plano de sair da União Europeia. No rescaldo destes acontecimentos, há quem diga que os conservadores canadianos têm muito a aprender com os britânicos: é que, ao contrário de Scheer, Johnson nunca procurou esconder ou dissimular indiscrições.