QUEM DISSE QUE O ‘SHOWBIZ’ NÃO FAZ POLÍTICA?

Correio da Manhã Canadá

Por estes dias, assistimos ao regresso de Justin Trudeau a África, numa viagem oficialmente centrada, nas palavras do primeiro-ministro, em “oportunidades económicas”, nas “alterações climáticas”, na “segurança global” e na “igualdade de género”.

A comitiva, que tem como pano de fundo outro propósito – assegurar o apoio africano à candidatura do Canadá ao Conselho de Segurança das Nações Unidas – inclui um embaixador, um ministro do gabinete liberal e um nome inesperado: Masai Ujiri, presidente dos últimos campeões da NBA, os Toronto Raptors.

A escolha de Trudeau é duplamente estratégica. Além de ser natural da Nigéria e de ter relações significativas no continente, Ujiri traz aquele “brilho” próprio das celebridades à visita, funcionando como contrapeso à seriedade dos assuntos políticos.

Essa mistura dos universos da política, do desporto e das celebridades marcou recentemente outro evento. No intervalo do Super Bowl, nos Estados Unidos da América, Shakira e Jennifer Lopez fizeram história, não só pelo espetáculo de proporções épicas, mas sobretudo pela mensagem política subliminar que veicularam.

A escolha da música “Born In The USA” foi tudo menos ao acaso. Acompanhada de um grupo de crianças, Jennifer Lopez envergou uma bandeira simultaneamente norte-americana e porto-riquenha, num momento que foi amplamente encarado como um protesto às políticas de emigração de Donald Trump.

Já em Portugal, a presença política no mundo das celebridades viveu um momento paradigmático há cerca de um ano. Na estreia televisiva de um programa de entretenimento, o Presidente da República português congratulou, por telefone e em direto, a apresentadora Cristina Ferreira, num gesto que despoletou amplas críticas de populismo dirigidas a Marcelo Rebelo de Sousa.

Os mais rígidos poderão dizer que o mundo do “show business” e da política são incompatíveis. “Cada macaco no seu galho”, em bom português coloquial. E até pode ser verdade, em parte, se admitirmos que essa mistura enviesa a mensagem e impede uma discussão contextualizada dos assuntos mais importantes.

Por outro lado, sabemos que as leituras rígidas não costumam ser as melhores. Na análise destes temas, importa lembrar que a responsabilidade mediática difere, certamente, de um líder político para uma celebridade, e o que é válido numa circunstância, poderá não o ser noutro contexto. E porque não acompanhar a estadia de Masai Ujiri em África para perceber se, neste caso, o “showbiz” tem efeitos benéficos na política?