PORTUGAL TEM OUTRO RONALDO

Correio da Manhã Canadá

No próximo dia 13 de janeiro, o ministro português das Finanças, Mário Centeno, tomará posse em Bruxelas, como o novo Presidente do Eurogrupo, ou seja, o responsável máximo das Finanças dos 19 países europeus onde circula a moeda única – o Euro. Por enquanto, continuará a ser, também, ministro em Portugal, mas com as reformas que se falam e que no futuro próximo poderão ser implementadas, tudo indica que talvez passe a ser designado como o ministro das Finanças da Europa e, nesse caso, deixará de exercer o cargo em Portugal.

Mário Centeno foi eleito para um mandato de dois anos, substituindo o holandês Jeroen Dijsselbloem, que ficou conhecido pela polémica frase, proferida, no início deste ano, e em que insinuava que os países do sul da Europa gastavam o dinheiro em copos e mulheres e depois pediam ajuda aos países nórdicos mais ricos. A controversa frase serviu para tudo e, em certa medida, para agravar as diferenças entre os países da zona Euro.

Como se sabe, Portugal foi, recentemente, um País intervencionado. Em 2011, o défice público ultrapassava os 11%, numa ocasião em que já quase não havia dinheiro para pagar salários aos funcionários do Estado. O Governo de então, presidido por José Sócrates, não teve outro remédio senão apelar à ajuda externa. Foram anos difíceis que se seguiram e o Governo seguinte, chefiado por Passos Coelho, foi forçado a baixar o défice até aos 3% em 2015, o que conseguiu com o esforço e sacrifício de todos.

Foi nessa ocasião que entrou em funções o atual ministro das Finanças, Mário Centeno, e que continuou a pôr as contas a níveis nunca vistos. Toda a Europa começou a olhar para Portugal com outros olhos, ao ponto de o ministro alemão, Schauble, conhecido pelo rigor e pela forma implacável de tratar os números, passou a considerar o ministro português como o “Ronaldo das Finanças europeias”.

A partir dessa declaração estavam lançadas as premissas necessárias para levar Mário Centeno ao topo da esfera europeia. É caso para se dizer que o improvável aconteceu mesmo e Portugal volta a ocupar na Europa um alto cargo e, desta vez, não apenas com um carácter político, mas essencialmente técnico e de grande prestígio. A primeira reunião a que vai presidir será no dia 22 de janeiro e a partir dessa data será um português o principal guardião das metas financeiras europeias.

Mário Centeno é o terceiro presidente deste órgão, fundado em dezembro de 1997. O Eurogrupo é anterior à criação da moeda única – o Euro, e um dos seus principais objetivos é vigiar a moeda e a zona económica, de forma a combater as crises e desigualdades entre os vários países europeus. É a primeira vez que um europeu oriundo de um País do Sul ocupa tal cargo. Há dois anos, o ministro espanhol tentou chegar lá, mas a maioria europeia negou-lhe essa possibilidade.

Mário Centeno está associado à recuperação económica e financeira dos últimos anos em Portugal. Os portugueses passaram de caloteiros e despesistas a cumpridores e organizados. O País parece outro, a Europa acaba de reconhecer esse mérito, e a partir de agora, obrigatoriamente, não há mais lugar a aventuras financeiras.

Jorge Passarinho