PORTUGAL PRÁ ESQUERDA CATALUNHA PRÓ TORTO

Correio da Manhã Canadá

O passado domingo foi caracterizado na Península Ibérica por dois atos eleitorais: Eleições Autárquicas em Portugal e tentativa de Referendo na Catalunha, com vista à clarificação do voto popular para a conquista da independência face a Espanha.

Se em Portugal o domingo político decorreu com toda a normalidade, o mesmo já não se pode dizer do que aconteceu na Catalunha, com especial incidência em Barcelona. Em todo o território português foram eleitos os presidentes de 308 concelhos e de 3.092 freguesias. A tendência do voto obedeceu ao que as sondagens indicavam: os socialistas são os grandes vencedores e os sociais democratas os que mais perderam.

A esquerda saiu vencedora, precisamente, porque o partido do primeiro ministro ganhou em todas as frentes. Em contrapartida, os seus aliados de esquerda na governação do País, não tiveram o mesmo posicionamento. O Partido Comunista perdeu autarquias e o Bloco de Esquerda nem sequer elegeu nenhum presidente. No entanto, a esquerda sai vencedora pelos votos e mandatos alcançados pelo Partido Socialista, sabendo-se que esta esquerda é moderada e pode desde já dar indicações do eleitorado face às próximas eleições para o Parlamento. Apesar de todas as forças de esquerda reclamarem a sua função útil para melhor governação e, desse modo, quererem evitar a criação de maiorias de um só partido, o certo é que os eleitores não estiveram pelos ajustes e preferiram privilegiar o voto de esquerda, maioritariamente no PS, pondo de parte os mais radicais.

A direita portuguesa fraquejou. O PSD perdeu em todas as direções e não demoraram as críticas dos analistas sociais democráticos a pediram a demissão do seu líder, Pedro Passos Coelho. Este, no entanto, anunciou que vai meditar e ponderar sobre o futuro, nunca admitindo pedir a demissão. Mas quando assim é, geralmente a saída acontece mais depressa do que se poderá imaginar.

No outro lado da Península, a Catalunha jogou uma cartada muito alta. À partida, sabia-se que o ato eleitoral pretendido era ilegal, uma vez que a Constituição espanhola de 1978 não contempla este tipo de consultas, visando a divisão do País. Mesmo assim, o governo autonómico da Catalunha insistiu e o que se viu foi uma tentativa frustrada, com mesas de voto a correr de sítio para sítio, muita gente a defender uma causa que a polícia se encarregou de desmantelar, com o custo de muitos feridos que amanhã serão transformados em mártires.

É neste ponto que as autoridades catalãs irão jogar o seu futuro. Madrid arranjou um grande sarilho com falta de senso na gestão do problema, mas Barcelona mostrou ser pouco solidária, ao justificar a pretensão de independência, entre outros pontos, pela recusa de ajudar as regiões de Espanha mais pobres, nomeadamente a Extremadura e a Andaluzia.

Portugal e Espanha estiveram ativos, mas por razões diferentes. Se em Portugal os ventos sopram de feição, é muito provável que em Espanha seja necessário o recurso a terceiros para apaziguar as forças, pois o problema das autonomias está mal resolvido.
JP