Joaquim Pais Jorge, o secretário de Estado do Tesouro que pediu a demissão na sequência da polémica com os swaps e com a venda de um produto de alto risco ao governo de José Sócrates, foi um dos rostos da operação de cessão de créditos ao Citigroup, em 2003, e que permitiu à então ministra Manuela Ferreira Leite sanear as contas públicas.
O Governo usou este mecanismo – passou 15 mil milhões em dívidas fiscais e da Segurança Social para o Citigroup – para baixar o défice. Um ex-governante que conhece o dossiê da cedência de créditos confirmou ao CM que Paulo Gray – que tentou vender um produto do Citigroup para mascarar o défice ao executivo de Sócrates e que agora lidera a consultora que compilou os contratos swaps tóxicos – foi o principal negociador do Citigroup. Mas enquanto diretor da sucursal do Citibank em Portugal, Pais Jorge esteve também ligado à cedência de créditos. Segundo uma auditoria do Tribunal de Contas, foram abertas contas na sucursal do Citibank no País para que a transferência fosse feita. Além disso, os créditos foram cedidos à Sagres (detida pelo Citi), onde Pais Jorge estava no conselho fiscal. Questionada pelo CM sobre se as negociações envolveram Pais Jorge, Ferreira Leite disse apenas que, em relação ao Citigroup, “está tudo na Assembleia da República”. O CM sabe que Pais Jorge é quadro das Estradas de Portugal, onde deverá regressar após a demissão. Para o lugar fala-se de Manuel Rodrigues, secretário de Estado das Finanças e que acumularia o Tesouro.