O DIA SEGUINTE

Correio da Manhã Canadá

A propalada independência da Catalunha está na ordem do dia e tem sido notícia e comentário em todo o mundo. É um caso de estudo e que tem mexido com a política em Espanha e muito em especial no seio da União Europeia, porque, de facto, nunca se vislumbrou que Bruxelas tivesse que enfrentar uma situação destas. Se o Brexit é um caso previsto nos regulamentos comunitários, o mesmo não se passa com a realidade catalã. Também os casos de referendo no Québec e na Escócia estavam previstos legalmente tanto no Canadá como no Reino Unido, mas o mesmo já não acontece em Espanha.

No meio de tanta confusão e de disparate político, quer de Barcelona quer a partir de Madrid, a Catalunha foi declarada independente durante oito segundos, pois após o anúncio, o próprio Presidente catalão recuou e anunciou a suspensão da sua declaração, para que dessa forma seja possível abrir espaço ao diálogo com as autoridades de Madrid, com vista a ser encontrada a melhor solução para a tensão criada.

A vontade do povo catalão querer separar-se de Espanha não é de hoje, nem de ontem. É um processo de séculos e que nunca foi alcançado, nem nunca ficou bem resolvido. Depois da guerra civil de 1936, a mais recente e flagrante tentativa para a independência, a Espanha voltou a ficar unida territorialmente, com o esmagamento das resistências e em especial da Catalunha.

Como castigo das rebeliões, Franco proibiu a língua catalã e controlou a influência da região. No entanto, não conseguiu apagar, definitivamente, a cultura daquele povo que resistiu décadas em silêncio. Com o advento da democracia todo o mapa de Espanha foi redesenhado com autonomias ao gosto de cada um. A paz alcançada com subsídios e descentralização de poderes, revelou-se a melhor solução da altura, mas os problemas ficaram.

Chegados ao ponto da discórdia da atualidade, também ninguém pensou como seria o dia seguinte à declaração da independência. Para se ter esse estatuto é necessário que alguém o reconheça e não seria de esperar que algum País europeu ou da esfera ocidental legitimasse esse direito. À luz da Lei internacional como iriam os catalães justificar-se, dado que não vivem uma situação de colonialismo, nem de falta de democracia, nem tão pouco o povo está sujeito a sevícias ou outras atrocidades que ponham em causa os Direitos Humanos.

Portanto, chegou-se a um patamar em que não se pensou no dia seguinte. O objetivo principal de todo este movimento foi mais romântico do que prático e legal. Se a Catalunha conseguisse a sua independência face a Espanha, pela forma como tudo foi conduzido, toda a organização política da Europa e do mundo seria questionada. Acabaria a estabilidade e a partir de então qualquer região da Europa poderia reivindicar o mesmo.

A Catalunha é uma realidade sem solução à vista, devido à falta de qualidade política tanto do lado de Barcelona como de Madrid e em que o próprio Monarca se envolveu de forma a inflamar mais as hostes. Decerto que tão cedo não visitará a Catalunha. A Espanha não pensa na Europa e nas futuras formas de organização territorial e política. O que se viu foi o poder económico fazer valer a sua força e os políticos recuarem. Agora, como se nada fosse, vão, provavelmente, continuar o seu dislate, sem concretizar nada.

JP