MAIS EMIGRANTES RECENSEADOS, MAS ABSTENÇÃO MANTÉM-SE ALTA

Correio da Manhã Canadá

As eleições legislativas tiveram lugar este domingo, em Portugal. Porém, pouco ou nada mudou não só em termos de quem mantém o poder, como também na ininterrupta apatia dos portugueses no que diz respeito ao exercício de voto.

O 25 de abril – e por sinal celebrou-se o aniversário da associação 25 de Abril em Toronto este fim de semana – devolveu o poder ao cidadão, a capacidade de escolher quem lidere, a possibilidade de traçar o presente e o futuro do país. Em 1975, 95% dos portugueses foram às urnas para exercer esse direito que lhes fora furtado durante décadas de ditadura. Porém, Portugal e os portugueses esqueceram-se da importância do voto e da luta que a geração dos nossos pais e avós travaram para que pudéssemos gozar deste direito. Hoje, cerca de 1 em cada dois portugueses vota…ou abstém-se, como quiserem.

Nas comunidades portuguesas, que são as embaixadoras de Portugal pelo mundo, o cenário é ainda mais preocupante. Atualmente, são mais de 1 milhão de portugueses residentes no estrangeiro e luso-descendentes recenseados e aptos para votar. Nestas eleições de 6 de outubro, menos de 100 mil votaram. Ou seja, mais de 90% dos recenseados não votaram. Nesta campanha eleitoral, a Grande Toronto recebeu vários candidatos ao círculo fora da Europa e pudemos constatar que uma das suas preocupações foi o recenseamento consular.

Os portugueses têm o direito ao voto, mesmo aqueles que vivem no estrangeiro. Porém, os emigrantes não gozam inteiramente dos mesmos direitos daqueles cidadãos que residem em Portugal no que ao voto diz respeito. Um dos direitos fundamentais de um eleitor é o voto secreto. Porém, esse direito só se aplica àqueles que residem em Portugal. Aqueles cidadãos portugueses que residem no estrangeiro e que receberam cartas para o voto antecipado por correspondência, não podem votar no anonimato como todos os outros portugueses. Isto porque, acompanhando o boletim de voto, o emigrante tem de enviar também uma cópia do seu cartão de cidadão, o que elimina a ideia de um voto secreto. É fundamental que, ao termos o direito ao voto, gozemos também de todos os outros direitos elementares de um português comum. Só assim poderemos a ajudar à diminuição da apatia dos emigrantes em relação ao voto e só assim nos poderemos sentir tão portugueses como aqueles que vivem em Portugal.