FILIPE FERREIRA, DUAS VEZES EMIGRANTE

Filipe_foto3Filipe Ferreira de 34 anos vive a sua segunda experiência como emigrante. Desde 2013 que vive e trabalha em Londres. Abandonou Portugal juntamente com a sua namorada porque não tinha certezas quanto ao seu futuro, não esperava nada de Portugal. Atualmente tem uma vida estável, algo que nunca foi capaz de concretizar em Portugal. Com sonhos de projetos futuros, Filipe não sabe se há hipótese de voltar a Portugal.

Emigrar outra vez
Filipe é filho de emigrantes, nasceu e cresceu em Paris, no entanto considera-se natural de Mortágua, Viseu, onde viveu desde os 10 anos.
Em 2008 decidiu abandonar o país pela primeira vez, escolheu Londres como destino e lá permaneceu até 2010. Decidiu emigrar por curiosidade, mas ao mesmo tempo com um sentimento de perda por deixar os pais.
Depois de vivida a primeira experiência como emigrante, em 2013, devido às necessidades profissionais e económicas, viu-se obrigado a sair novamente de Portugal. A incógnita de ver o seu contrato renovado ou não, a redução no ordenado e os dois empregos para conseguir sobreviver foram os motivos que o levaram a mudar o rumo da sua vida. Viver assim não era solução, Filipe chegou ao ponto de não conseguir garantir as suas refeições diárias, ficando estas reduzidas “a uma simples malga de cereais por dia”. Isto levou a uma perda de 60kg em 8 meses, algo que lhe deixou “marcas aterrorizadas” que não quer voltar a sentir.
Nestas circunstâncias era impossível fazer planos “Casar, constituir família ou ajudar os meus pais com os seus gastos de saúde mensais eram realidades que almejava como certos e normais no meu projeto de vida”.
Desta vez, foi “com grande mágoa e revolta” que voltou a abandonar o seu país e regressou a Londres.

Filipe_foto1A vida em Londres
Ao chegar a Londres, Filipe teve uma adaptação relativamente fácil, existiram apenas “algumas dificuldades como a inserção social, profissional e burocrática na fase inicial”. A nível profissional, as dificuldades passaram pelo código de conduta e deontológico de enfermagem por este ser diferente do português. Esta situação acabou por limitar um pouco a sua atividade, no entanto, Filipe conta que, após estar empregue, no espaço de um ano já foi promovido 3 vezes, atualmente ocupa o posto de Enfermeiro Chefe.
No que diz respeito à vida social, sempre fez questão de se integrar na sociedade britânica/londrina, mas sem nunca esquecer as suas origens “Nunca reneguei ou camuflei as minhas origens”. Costuma visitar locais de comércio e festivais lusos para se manter em contato com a comunidade portuguesa em Londres.

Sonhos alcançados
Atualmente Filipe sente que já pode fazer planos “O sentimento inicial de revolta por emigrar apazigua pelas possibilidades profissionais, pessoais e económicas que o país nos oferece”.
Algo simples como viver com a namorada como um casal, foi um dos sonhos que Filipe já concretizou desde que está em Londres. O próximo objetivo a atingir é comprar uma casa em Londres, casar e abrir um infantário “tendo por base a metodologia portuguesa”.

As saudades de Portugal
Os pais de Filipe não possuem internet e “nem sabem como utilizá-la” por isso o contato é feito pelo telefone. Quando a irmã está presente, costumam falar através do Skype, mas garante “a única maneira de matar a saudade é de fato indo a Portugal”.
Sente saudades das pessoas (sobretudo amigos e família), da cultura, das paisagens, da vida calma, da falta dos cheiros e dos paladares, mas nada o faz mudar de ideias e pensar num regresso a Portugal. Filipe afirma que Inglaterra é um país que oferece muitas oportunidades e que leva as pessoas a estar e a pensar de maneira diferente, pelo que se torna difícil voltar a Portugal, “sem nunca pensar na possibilidade de emigrar novamente”. Mesmo assim, Filipe gostava de um dia poder voltar a Portugal, um país pelo qual se apaixonou desde criança, quando deixou “França para trás, sem hesitação”.

Mais que tudo um Coração Luso
Portugal, é para este emigrante “incondicional”. “O orgulho e o amor incondicional ao meu país e cultura tornaram-me a pessoa que eu sou”.