ENTRE A FOLIA CARNAVALESCA, TEMAS FRATURANTES

Correio da Manhã Canadá

Palavras duras, reações acesas, manifestações nas redes sociais e nas ruas, temas fraturantes. São palavras que servem para descrever os últimos dias em Portugal e no Canadá.

Deste lado do Atlântico, os protestos contra o gasoduto de British Columbia continuam, invariavelmente, a invadir as notícias. Criticado pela resposta demasiado branda às manifestações pró-comunidades indígenas e, em específico, aos bloqueios ferroviários que tem assolado o país, Justin Trudeau abandonou, na passada sexta-feira, a postura “pacífica” que defendera até então.

Aludindo a “tentativas de diálogo” pouco “produtivas”, o primeiro-ministro diz agora que “os bloqueios têm de parar”, que “as injunções têm de ser obedecidas” e que “a lei deve ser cumprida”. Uma postura manifestamente contrária ao que veio a defender inicialmente e que deverá ser a resposta às múltiplas críticas de inércia dirigidas a Ottawa no contexto do conflito.

Enquanto isso, as atualizações diárias sobre o novo coronavírus convivem com as notícias sobre o gasoduto, contribuindo para o agravamento da agenda mediática canadiana.
Já Portugal é palco dos seus próprios dissabores. Enquanto no Canadá se fala no desrespeito das comunidades indígenas e em novos caso de COVID-19, em terras portuguesas há duas palavras que têm sido entusiasticamente repetidas pela imprensa e pela sociedade em geral: racismo e eutanásia.

O episódio em torno do jogador Marega, que na semana passada abandonou o relvado após ser alvo de cânticos racistas durante uma partida entre o FC Porto e o Vitória de Guimarães, promete ser lembrado como um dos mais vergonhosos da história do futebol. Ainda que o acontecimento alerte para uma análise mais aprofundada de comportamentos racistas, sobretudo os que as câmaras não apanham, a esmagadora onda de solidariedade que ainda se faz sentir no país é um bom sinal de que o racismo é já uma postura consensualmente inaceitável.

A eutanásia, por outro lado, levanta argumentos mais complicados, sendo, provavelmente, um dos assuntos que mais divide opiniões em Portugal. Os projetos da respetiva despenalização foram aprovados, na generalidade, no Parlamento português, mas até que entre efetivamente em vigor, prevê-se um longo processo legislativo, que passa pela decisão do presidente da República, sem descartar uma possível intervenção do Tribunal Constitucional e até um eventual referendo.

A quantidade de assuntos complicados na órbita do Canadá e de Portugal contrasta com a folia carnavalesca própria desta época. Mas talvez seja precisamente esse o propósito supremo do Carnaval: a possibilidade de parar, de camuflar os problemas e de viver o lado bom da existência, nem que seja durante poucos dias. Com isto em mente, esqueçamos, temporariamente, os assuntos sérios.

Bom Carnaval a todos!