ATORES DA CORNUCÓPIA REÚNEM-SE PARA FAZER LEVAR “A BODA” DE BRECHT AO PALCO DO CCB

LusaLisboa, 21 mar (Lusa) — A peça “A boda”, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), estreia-se, no sábado, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, assinalando o regresso ao palco de um grupo de atores do Teatro da Cornucópia.

David Almeida, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Luís Lima Barreto, Márcia Breia, Rita Durão, Rita Loureiro e Sofia Marques são os atores que pertenciam àquela companhia com sede no Bairro Alto, fechada em dezembro de 2016, e que agora se juntam de novo para interpretarem a peça encenada por Ricardo Aibéo, também ele um ‘cornucopiano’, como se designam entre si.

A este núcleo junta-se ainda João Craveiro, que pela primeira vez vai trabalhar com Ricardo Aibéo, como disse o encenador à agência Lusa.

Levar ao palco esta peça escrita por Brecht aos 21 anos, a que inicialmente chamou “O casamento dos pequeno burgueses”, é um projeto antigo do encenador, vindo do tempo da Cornucópia, sobre o qual chegou a falar com Luis Miguel Cintra, mas que nunca foi possível concretizar.

O projeto que ficara ‘pendurado’ chega agora ao CCB, na sequência de um convite que a administração desta entidade fez a um dos elementos do grupo de atores, que se juntou depois do fecho da Cornucópia, ainda antes de Ricardo Aibéo ter encenado o primeiro projeto do grupo, “A morte de Tintagiles” — estreada em maio de 2017, no Teatro do Bairro, Lisboa.

Imediatamente surgiu a ideia de fazerem “A boda”, que é uma peça “com algumas personagens”, de “diferentes gerações” e um “desafio muito engraçado”, por se tratar de uma “espécie de história sem narrativa, que caminha para lado nenhum”, observou Ricardo Aibéo.

Porém, à medida que a ação se vai desenrolando, é como se o mundo das personagens “fosse ficando em ruínas” e, simultaneamente, também as relações e os laços que ligam as personagens começam “a apodrecer”, a revelar-se “falsos”, frisou.

A peça gira em torno de um jantar em casa de um casal de noivos em que tudo corre bem de início, mas a situação vai ‘descambando’, à medida que a teia dramatúrgica vai evoluindo.

É “uma comédia” em que as pessoas são “más, egoístas, mesquinhas, numa visão um bocadinho agreste da humanidade”, sublinhou Ricardo Aibéo.

Pensar esta peça agora, “pareceu óbvio” ao ator que entrou para a Cornucópia em 1996, onde se manteve até esta fechar, porque “tem tudo a ver com os meios de comunicação virtual” e com o “tipo de relações de hoje em dia” em que é “tudo muito de papel”, sustentou.

Nesta “sociedade ocidental em que vivemos”, quando “há contacto [entre as pessoas] parece que, cada vez mais, existe uma pré-conceção do tipo que devíamos ser numa determinada situação”, e as “pessoas cada vez mais obedecem a isso”, indicou, sublinhando incluir-se nesse grupo.

Por outro lado, este texto de Brecht dá-lhe a oportunidade, tal como aos atores e ao público, de juntar “este elenco, que é absolutamente formidável, e que poder-se-ia dizer que é o Teatro da Cornucópia”, porque esta peça, com tradução de Jorge Silva Melo e Vera San Payo de Lemos, junta um elenco “que trabalha junto há quase trinta anos”.

“Eu diria que, para nós todos, e falo começando por mim, é o aspeto a que nós talvez damos mais valor, neste objeto [peça] (…), é o facto de conseguirmos estar reunidos, irmos para cima de um palco e fazer o que [as personagens] fazem, que é muito, muito bom, muito engraçado e uma coisa muito divertida”, realçou.

Um divertimento que, todavia, não é “tão farsesco quanto a peça às vezes faça parecer”, pois deixa uma mensagem muito forte. “É uma peça muito cruel para com os homens em geral”, afirmou.

Questionado pela Lusa sobre se este grupo de atores é uma forma de manter viva a Cornucópia, Ricardo Aibéo realçou que a nenhum dos elementos “passa pela cabeça equiparar-se, substituir ou seja lá o que for” o trabalho “absolutamente único, fora do comum e superlativo” que foi e é o de Luis Miguel Cintra e Cristina Reis.

“Agora não nos perdermos uns do outros, nesse sentido mantermos alguma espécie de Cornucópia, sim, temos vontade”, mesmo que convictos de que isso é “muitíssimo difícil nos tempos que correm”, uma vez que há muita “adversidade” em arranjar meios, seja os obtidos através dos concursos estatais, seja por outra modalidade”, referiu.

“A Boda” está integrana no ciclo “Solidão – Sete Rosas Mais Tarde”, do CCB, que mobiliza igualmente criadores como a coreógrafa Olga Roriz, o compositor António Pinho Vargas e a realizadora Teresa Villaverde.

No Pequeno Auditório do CCB, “A Boda” repete no domingo, às 16:00, e nos dias 25, 27 e 28, às 21:00.

A cenografia é de Cláudia Lopes Costa, o desenho de luz de Rui Seabra, o guarda-roupa é uma colaboração coletiva e a produção executiva de Armando Valente.

Esta encenação de “A Boda” é uma coprodução com o Teatro Nacional São João, no Porto, onde vai estar em cena nos dias 30 de maio a 08 de junho.

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