ATÉ ONDE DEVEMOS PREOCUPAR-NOS COM O CORONAVÍRUS?

Correio da Manhã Canadá

Por estes dias, assistimos a duas posturas antagónicas: os que estão preocupados com o surto de coronavírus e os que criticam quem está demasiado preocupado com o surto de coronavírus. Entre a cacofonia diária de atualizações nos jornais, de novos casos, de mais mortes, de alegadas interferências políticas no surto, de impactos económicos e de muitas outros desdobramentos mediáticos, nem sempre é fácil perceber quanto de racional e quanto de emocional há na leitura dos factos em torno do novo coronavírus.

As estatísticas podem ajudar a enquadrar a questão. As quase três mil mortes registadas até à data permitem determinar que a taxa de mortalidade em crianças até aos nove anos é de 0%, dos 10 aos 39 anos de 0,2%, dos 40 aos 49 anos de 0,4% e a partir dos 80 anos de 14,8%. Também já se sabe que a mortalidade é mais elevada naqueles que têm outras patologias: cancro (5,6%), hipertensão (6%), doenças respiratórias crónicas (6,3%), diabetes (7,3%) e doenças cardiovasculares (10,5%).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, até agora, a maioria dos que morreram com o vírus tinha, com efeito, “problemas de saúde subjacentes”, como hipertensão, diabetes ou doenças cardiovasculares, o que resultou num sistema imunológico enfraquecido. Contas feitas, parece ser pouco provável que uma criança ou adulto saudável morra da infeção.

Apesar da taxa de mortalidade ser baixa, é a incerteza em torno do novo vírus que verdadeiramente aguça as preocupações. Nas palavras de Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde em Portugal, trata-se de “um vírus completamente novo, sem base de comparação”. Perante os primeiros casos de COVID-19 no país, Graça Freitas insistiu, contudo, na “tranquilidade”, lembrando que, face ao desconhecimento da “dinâmica do vírus”, não é possível “antecipar cenários” e que tudo o mais é “especulação”.

Enquanto se aguardam informações mais concretas sobre o potencial infecioso do novo coronavírus, resta não ceder à angústia da “especulação” e fazer apenas o que está ao nosso alcance fazer. Lavar as mãos com frequência e fazer um esforço consciente para não mexer nos olhos, nariz e boca são as ações preventivas mais eficazes, a par de uma boa gestão psicológica do medo, que, muitas vezes, se torna o problema central, mesmo que não tenhamos consciência disso.