A FALTA DE UM TESTAMENTO

A mais recente confusão no Médio Oriente é o corte de relações entre vários países árabes, liderados pela Arábia Saudita, e o Katar, por alegado apoio do Emir katari a grupos de terrorismo e aproximação às autoridades do Irão. A notícia caiu como uma bomba, pouco tempo depois da visita de Donald Trump àquela região, onde se reuniu com 50 chefes de Estado árabes e a quem pediu para banirem da terra os grupos terroristas.

O terrorismo tem acontecido por todo o lado, incluindo também o mundo árabe, o que revela a paixão alucinada pelos dogmas religiosos e a falta das mais elementares regras de boa convivência e da paz. Por todo o mundo há crenças e diferenças que deveriam ser respeitadas, mas infelizmente a verdade é outra. A religião tornou-se o veículo da insegurança.

Há grupos terroristas que se destacam por espalharem o pânico e a morte ser a sua causa principal. O mais recente movimento chama-se Estado Islâmico, ISIS ou Daesh. O seu objetivo é a qualquer custo restaurar a ordem de Deus e defender os muçulmanos contra os infiéis, entre os quais incluem todos os não muçulmanos e os seus “irmãos” xiitas.

A origem de tudo isto está no Profeta Maomé que viveu entre os anos 570 e 632. Segundo o próprio Maomé, foi abençoado por uma mensagem enviada por Deus, através do anjo Gabriel, e que o declarava como o último profeta da Humanidade. Durante os seus 62 anos de vida deslocou-se entre Meca e Medina, promovendo guerras entre as duas cidades e justificando-se como o restaurador dos ensinamentos originais, porque estariam a ser corrompidos tanto pelo judaísmo como pelo cristianismo, as outras religiões monoteístas.

Maomé criou então uma nova religião – o Islão. Casou mais de uma dezena de vezes e teve muitos filhos. No ano de 622 criou o próprio calendário islâmico e toda uma série de práticas, entre as quais a obrigatoriedade de se rezar cinco vezes ao dia. Tomou o poder através da força e os seus apoiantes limitaram-se a dizer que Maomé seria um modelo a seguir. Embora não haja registo de nenhum milagre seu, os seus seguidores atribuíram-lhe, na mesma, essa capacidade e consideraram-
no o homem mais poderoso da Arábia.

Quando morreu não deixou sucessor e se a sua vida foi feita de guerras, a sua sucessão foi pior. Houve quem preferisse o seu primo, Ali, enquanto outros elegeram o seu amigo, e que viria a ser sogro, Abu Bakr. Assim se criaram duas correntes distintas: xiitas e sunitas. Apesar dos 14 séculos de divisão e com guerras restritas à escala regional, somente a História mais recente é que começa a contar o agravamento da conflitualidade. Depois da II Guerra Mundial viraram-se contra Israel e o Ocidente, mas foi a Revolução Islâmica de 1979, que provocou a queda do Xá da Pérsia e a ascensão do Ayatollah Khomeini, que veio alterar por completo o fraco equilíbrio existente. Um dos poucos rituais de concórdia, que prevalece, é a peregrinação a Meca.

Hoje, os muçulmanos são cerca de 1,6 mil milhões, 85% dos quais são sunitas, portanto fiéis à Arábia Saudita, País que vai receber, em breve, mais de 100 mil milhões de dólares de armamento americano. Muitas destas armas são para se defenderem e atacarem entre si, na chamada guerra do poder no Médio Oriente. Fora isso, exporta-se o pânico e a desordem. E, afinal, tudo começou com mortes por falta de um testamento a indicar o sucessor.

JP